Inauguração do Museu Municipal contou com equipe capacitada de forma específica para o processo

31 anos após a abertura do Museu Época, em 15 de setembro de 1992, a coleção de Aristides Spósito recebe novo lar na Mansão Vila Hilda

Aqueles que estavam presentes na abertura do Museu Municipal Aristides Spósito, na semana dos 200 anos de Ponta Grossa, testemunharam a manifestação da memória da cidade, que foi cuidadosamente materializada no museu. A historiadora Samara Hevelize de Lima, membro da APPAC, participou do projeto de reformulação do Museu Municipal por meio de consultoria técnica, e relata o processo em que fez parte, ainda em desenvolvimento. “Essa foi a primeira parte do projeto, que seria a inauguração. Agora, vamos começar a higienizar o restante do material que está em reserva técnica, ter maior cuidado com os objetos que estão expostos por meio do planejamento de manutenção, e catalogação”.

Até a inauguração, Samara explica que o processo foi intenso por conta do prazo até a data estabelecida, que está alinhada com o aniversário da cidade. A historiadora relata que foi convidada a participar do projeto em abril de 2023, tendo, assim, cinco meses até a inauguração. 

Preparação da equipe

Ela destaca, primeiramente, a preparação da equipe que participou do projeto. Assim, além da consultoria técnica, ela organizou oficina de preparação para a equipe do projeto, com duração de quatro dias. A primeira etapa do trabalho foi a capacitação da equipe, conjunto de membros da Casa da Memória, da Secretaria de Cultura e de voluntários. “Conversamos com o pessoal sobre o que é um museu, como o museu se estrutura, quais são as etapas de um projeto museal, como desenvolver uma curadoria expográfica e como aplicar um projeto de planejamento de procedimentos técnicos de conservação”, conta Samara. 

De acordo com Samara, a princípio foi discutido o acervo do Museu Época, com a coleção de Aristides Spósito, e como seria o museu, agora, na Mansão Vila Hilda. Também foi debatido as funções básicas do museu. “Cada museu precisa de uma base para ser desenvolvido, pautada em pesquisa, comunicação e preservação”, destaca. Importante fator, diante da coleção presente no Museu Época, foi o trabalho de conservação, considerando o estado de degradação dos acervos. Samara explica que houve a necessidade de intervenção no acervo: “não foi feito restauro em nenhuma peça, foi feito conservação preventiva e curativa”. A oficina não foi apenas teórica, pois foi realizada oficina prática de manipulação de acervo com os principais tipos de procedimentos que seriam necessários para trabalhar com o acervo original. 

Ainda na oficina de capacitação, ela conta ter repassado documentos formulados por ela, em conjunto com o diretor da Casa da Memória na época, Eduardo Telerski: o regimento interno do museu; o plano de criação; projeto inicial com todas as etapas de como seria feita a consolidação do museu; plano de deslocamento do acervo que estava no Museu Época; plano de conservação, considerando cada tipologia de suporte, ações emergenciais por conta do curto prazo até a inauguração; e plano expográfico, em que foram definidas temáticas para cada espaço da exposição. Havia uma equipe de voluntários trabalhando com pesquisa e levantamento sobre cada um dos ambientes/temáticas com o objetivo de desenvolver os textos da exposição e orientar o roteiro da exposição. 

Organização do acervo

Dois meses antes da inauguração, dia 12 de setembro, em julho, Samara afirma ter iniciado o processo de retirada do acervo do Museu Época. Foram separados objetos que iriam para exposição, objetos com potencial de ir para exposição, e objetos que seriam mantidos na reserva técnica. “Foram quatro semanas desse processo, bem intenso, porque muitos objetos estavam sensíveis e deteriorados por causa do tempo em que o museu ficou fechado. Eles precisavam de cuidado extra, então tivemos o cuidado de embalar, selecionar e respeitar as condições daqueles objetos e também da casa, que estava em um estado crítico”, diz a historiadora. 

Após o transporte dos objetos, já separados, teve início a higienização. O processo foi dividido por temáticas, portanto, aqueles objetos que iriam compor o quarto, sala, cozinha… A higienização foi realizada pelos voluntários, com o acompanhamento técnico de Samara. Posteriormente, a organização dos ambientes foi também realizada, com base na expografia já definida. Por exemplo, “sabíamos onde seria a parte de patrimônio e quais seriam os elementos trazidos para essa parte. Já tínhamos tudo definido com a pesquisa, e já tínhamos os textos”, detalha a historiadora. Ela pontua: “a exposição não é simplesmente colocar os objetos no lugar, precisamos de um plano, então, definir o que a equipe quer em cada espaço, e como vamos articular um objeto com o outro, pois precisam dialogar”. Samara destaca que a pesquisa foi auxiliada de forma voluntária, principalmente, pela historiadora do Museu Cenas, Vitória Oliveira. 

O homem do museu

“Em memória principalmente ao pai, pelos tempos que ele dedicou em prol da cultura pontagrossense”, diz a filha de Aristides Spósito, Mariângela da Silva Spósito, em discurso na inauguração do Museu Municipal. Ela agradeceu aos colaboradores pela reformulação do Museu Municipal e aos que ajudaram a manter o Museu Época. Além disso, ela enfatiza a importância de leis que auxiliem na conservação de imóveis tombados, para que se mantenham como edificações históricas. “No futuro, o que conta é a preservação do passado”, finaliza Mariângela, como citação de frase frequentemente dita por Aristides. 

Aristides Spósito faleceu em 2019 aos 80 anos e, até esta data, cuidava sozinho do Museu Época, inaugurado em 15 de setembro de 1992. Atuou como comerciante em Ponta Grossa e iniciou a coleção de objetos que, quando criado o museu, era exposta de forma voluntária à comunidade pontagrossense, sendo composta por diversas peças históricas de variadas regiões do país. Ele firmou parcerias com instituições educacionais, comerciais e religiosas para coleta de mantimentos e roupas doadas para instituições carentes. 

O Secretário Municipal de Cultura, Alberto Portugal, e a Prefeita Elizabeth Schmidt estiveram presentes no evento de inauguração. Ambos relataram suas histórias com Aristides Spósito e com a Mansão Vila Hilda. Portugal aproveitou para enfatizar a importância dos patrimônios, como manifestações culturais e artísticas, admiradas por aqueles que “compreendem a vida além do nascer, trabalhar, e morrer”. De acordo com Elizabeth, o museu é espaço de reflexão e educação. 

Texto e fotos por Cassiana Tozati