Hospital 26 de outubro… patrimônio ameaçado?
27 de dezembro de 2018
No dia 01 de novembro, fomos surpreendidos por uma notícia publicada nos jornais locais que informava que, para arrecadar mais recursos, a Prefeitura Municipal de Ponta Grossa pretende leiloar os imóveis do antigo Hospital 26 de Outubro, que em sua inauguração em 1931, chegou a ser considerado uma das melhores instituições de saúde da América Latina. Aparentemente, essa parece ser uma solução rápida e viável para o problema de caixa da Prefeitura, mas será que é a mais correta?
As edificações do velho 26 de Outubro compõem, junto com as estações ferroviárias, armazém e praça João Pessoa, o centro histórico de Ponta Grossa – e essa nem é a nossa história mais antiga, mas não preservamos nada na região da origem da cidade (Pça Mal Floriano Peixoto) e sobre o tropeirismo. A edificação principal do antigo Hospital, em estilo eclético e com pinturas internas do artista alemão Paulo Wagner, foi tombada pelo Conselho do Patrimônio Cultural e Artístico de Ponta Grossa em 2002, e pela Curadoria do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado do Paraná em 2005.
Numa pesquisa acadêmica que investiga sobre qual a fase histórica da cidade que o pontagrossense mais dá importância, aparece: ferrovia (32%), tropeirismo (24%), parque industrial (18%), cervejaria Antártica (13%), Operário Ferroviário E.C. (11%) e outros.
A sociedade de Ponta Grossa tem uma relação de amor e de orgulho com a ferrovia. A representatividade do que significou a ferrovia para a economia e cultura de Ponta Grossa, bem como as memórias das pessoas (e filhos e netos) ligadas à ferrovia são bastante significativos na nossa cidade. Atualmente há grande expectativa com a reforma e possíveis usos da Estação Saudade e área anexa.
Neste sentido, nós da APPAC (Associação de Preservação do Patrimônio Cultural e Natural), queremos, junto com a sociedade, dialogar com o Poder Público, especialmente os nossos vereadores e Prefeito Municipal, e discutir sobre a venda das edificações do 26 de Outubro.
Esse patrimônio, que foi adquirido pela Prefeitura em 1991- -, é uma joia da nossa cidade e vale – no sentido social e cultural – muito mais do que o seu valor venal. A preservação, manutenção e bom uso do patrimônio cultural é importante para a sociedade local e visitantes. Para os pontagrossenses é a forma de ajudar a conhecer e compreender a nossa história; a sua existência adiciona qualidade de vida para adultos e velhos que lembram das suas vidas com esses patrimônios e é a forma de manter (e mostrar para os turistas) aquilo que só existe aqui em Ponta Grossa, ou seja, o nosso patrimônio cultural.
A discussão mais importante talvez seja o uso desse patrimônio. Como é central e próximo ao terminal de ônibus e do shopping center, esse conjunto de edificações, com amplo espaço livre, têm boas condições de se tornar um belo e eficiente centro de convivência social e cultural. Um lugar, muito representativo para a sociedade local, que poderia combinar atividades culturais (cinema, teatro, música, dança, exposições de arte) com atividades comerciais prazerosas (cafés, restaurantes, bares etc.).
A APPAC se coloca a disposição para participar das discussões sobre tão importante patrimônio com o Poder Público nas eventuais ações de manutenção, restauro e reabilitação. Acreditamos que esse diálogo deva preceder qualquer ação sobre esses (e outros) patrimônios da cidade. Acreditamos também que uma ação nesse lugar poderá trazer benefícios para a sociedade e ainda marcar positivamente a passagem das atuais lideranças políticas da cidade, responsáveis por decisões que afetam não só o presente, mas, também, o passado e o futuro da bela e antiga Ponta Grossa.
Associação de Preservação do Patrimônio Cultural e Natural (APPAC)